domingo, 12 de julho de 2015

My Mad Fat Diary 3x03 (Series Finale): Voodoo


Rachel Earl, você viajará comigo.

My Mad Fat Diary, em suas três temporadas feitas sob medida, foi muito mais que uma série de TV: foi uma lição de vida. Dezesseis belíssimos episódios, repletos dos mais humanos personagens, das mais tristes histórias, das mais sinceras gargalhadas. Um desses raros momentos televisivos em que vimos entretenimento de qualidade, com conteúdo e emoção. Não é fácil conseguir um feito desses, mas MMFD o fez e deixa um legado inestimável.


É impossível que Rachel Earl passe pela sua vida e não viaje com você para sempre. O que ela nos trouxe e nos ensinou não vai apenas ficar no subconsciente, mas ajudar a promover uma mudança. Eu, certamente, não sou a mesma pessoa que era desde que comecei My Mad Fat Diary. Seja com a série ou com os livros (que são bem diferentes, vale o registro), eu cresci com Rachel e, na maior parte do tempo, eu fui Rachel. E você nem precisa ser ou ter sido uma adolescente gorda e com sérios problemas emocionais para se sentir assim e é por isso mesmo que existe a certeza de que essa é, de fato, uma obra transcendental, no sentido amplo (e sem misticismo) da palavra.

Nos últimos três anos, Raemundo invadiu nossas vidas e, ao lado dela, embarcamos numa jornada de autoconhecimento. Seus medos e suas expectativas se tornaram nossos. Suas fantasias e idealizações ganharam vida e vimos aquela menina reticente ganhar confiança. É por isso que esses três episódios finais são tão importantes. Embora eles não sejam tão empolgantes quanto os que vimos nas Seasons 1 e 2, existe um valor inestimável aqui. As primeiras temporadas são sobre Rachel voltando à vida e se firmando social e emocionalmente, descobrindo quem ela é e como confiar nas pessoas. Essa terceira é sobre confiar em si mesma. Sobre enfrentar o mundo e ter controle sobre a própria vida, de forma independente, mesmo que existam amigos e família para apoiá-la.

Nessa Season Finale, Rachel percebe que não precisa ser salva. Não mais. Ela pode fazer isso por si mesma, quando for preciso. Deixar de sentir-se vítima e de punir-se por sentir insegurança o tempo todo foi uma dura lição a aprender e ela requer prática. É isso o que Kester mostra para Rachel, ou melhor, a ajuda a perceber. E apesar de ela ainda querer contar com ele, ambos sabem que o saudável é que ela caminhe só. A despedida dos dois é sim, de partir o coração, mas de um jeito bom. Ver Rae capaz de ser tudo o que ela quer ser é uma mensagem importante.

Outra mensagem importante - e talvez controversa, pois quebra o paradigma do príncipe encantado -  é a de que Finn Nelson, por mais incrível que possa parecer, não é perfeito. Imagino a frustração causada pela separação do casal e pela traição, mas achei tudo tão palpável que sou incapaz de reclamar. Primeiro porque Rae claramente quer mais para si mesma e isso significa sair da cidade, ver o mundo, estudar, conhecer gente nova. Depois porque, se analisarmos bem, Finn, até agora, foi pintado como um "homem dos sonhos", inclusive porque o vemos pelos olhos de Rae. Para ela esse relacionamento soava como um milagre ou como um prêmio que ela talvez não merecesse. 

É um sentimento comum. "Ele é bom demais para mim". Será? Não que Rae não tenha vacilado, pois a segunda temporada não nos deixa esquecer, mas essa visão sem fantasias é um sinal de maturidade, então, quando ele pede o beijo de despedida e ela diz não (pois seria, sim, um retrocesso), estamos diante de uma das cenas mais positivas de toda a série. Rachel Earl tem valor. E Rachel Earl sabe disso.

Outro ponto extremamente positivo está na relação dela com a mãe. Foi uma grande evolução, sem dúvidas e um aprendizado para as duas. Rae tem que crescer e Linda precisa permitir e saber que não poderá proteger sua filha de tudo. Além disso, é lindo ver que Rae quer vê-la feliz ao lado de Karim, um pai postiço que, de forma delicada, trata a enteada com o carinho que ela nunca teve do próprio pai.

A amizade com Chloe é mais um item na lista de coisas lindas da série. Dentre altos e baixos, elas venceram e conseguiram reencontrar uma na outra algo perdido. Se Chloe um dia colocou Rae para baixo, sua mudança agora é radical. Ela defende, se importa e fará de tudo pela amiga. Confesso que lá no começo - e durante boa parte da série - detestei Chloe. Esse sentimento se transformou junto com a personagem, é claro, mas é bom pontuar que, na vida real, se alguém te coloca pra baixo e se alguém se diz seu amigo, é hora de rever seus conceitos de amizade. 

De toda a Gang, Chloe acabou sendo o grande destaque, seguida por Archie. No fundo, eu gostaria de ver um pouco mais deles todos, especialmente de Izzy, Chopp e de Danny (a mais recente adição). Finn, inclusive, merecia um pouco mais de espaço, mas entendo as escolhas feitas para o desenvolvimento de cada um. Dava vontade de estar com eles no Pub, falando bobagens e tomando drinks bizarros. De certa forma, fizemos isso, mas é chegada a hora de partir.Uma pena não vermos mais de Rachel e de todos esses personagens incríveis, mas gosto de saber que posso revisitá-los quando quiser, ver e rever essa que entra, definitivamente, para a lista de melhores séries da vida. 

Já disse lá no começo que vale muito a pena ler os diários de Rae. Eles são um excelente complemento para a série e para entender como a cabecinha de nossa personagem favorita funciona. A Rae de verdade é muito parecida com a Rae da ficção, mas suas histórias nem tanto. Na TV, o roteiro brincou com as fantasias dela e as transformou em realidade, então não pensem que vão encontrar uma história com começo, meio e fim, pois não é isso que ambos os livros nos oferecem. Os pensamentos de Rae, no entanto, sua essência e personalidade estão todos ali, mas de forma mais solta, como são todos os diários. 

O interessante é desvendar quem é quem, já que os nomes não são os mesmos da série e saber, no final, o que acontece de verdade com alguns deles, Finn, por exemplo. Nos diários, ele é retratado de forma mais justa (talvez), mas sua presença também é muito mais frustrante.

Não há nenhuma duvida de que My Mad Fat Diary é uma experiência enriquecedora. Assistindo, lendo ou fazendo os dois, a certeza é a de que saímos dela melhores do que éramos e com uma capacidade de entender os problemas do outro com muito mais sensibilidade.

P.S* Está liberado odiar Katie para todo o sempre.
P.S* Como não amar as lembranças de Tix e Liam?
P.S* Obrigada pela companhia nesta curta temporada final e lembrem de sempre recomendar My Mad Fat Diary para todo mundo!
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