Uma nova perspectiva.
Fazia muito tempo que as
perspectivas eram as mesmas. Um tempo tão longo que a parte boa quase ficou
completamente esquecida. Não sei se os próximos dois episódios que encerram a
temporada de Grey’s Anatomy serão como esse, mas a perspectiva e a expectativa
mudaram, como num passe de mágica. A metáfora é perfeita. E pelo menos hoje,
pelo agora, é possível ser feliz com um episódio que, como em áureos momentos,
traz drama, humor e enredo significativo.
Esse roteiro faz lembrar de
quando nossa rotina com a série era outra. Tudo estava interessante, bem trabalhado.
Até o que já é repetido, mas ganhou uma roupagem nova nessa semana. Você pode
nem ter notado, mas tanto o caso das gêmeas quanto o desenrolar com Cristina já
aconteceram antes. E tudo bem. Dessa vez, tudo bem. Porque funcionou e coube
perfeitamente nas intenções da trama.
Um dos principais pontos desse
episódio é o equilíbrio. Seja no Grey-Sloan Memorial ou em Zurich, havia
histórias que nos prenderam. Aliás, os cortes de um lugar para outro
movimentaram a edição, deram ritmo. Foi um bom ping-pong. Uma hora víamos os
personagens de sempre envolvidos na grande cirurgia de separação das gêmeas, ou
em suas rotinas de trabalho, depois, abríamos bem os olhos para testemunhar o
reencontro de Cristina e Burke.
Foi uma boa ideia trazê-lo de
volta. Acredito piamente que a saída dele ajudou muito o desenvolvimento de Cristina
como personagem. Se Isaiah Washington fosse menos homofóbico, ele teria ficado
no elenco e teríamos amargado a chatice de Cristina e Burke sendo um casal
babaca. E teria acontecido antes desse
mesmo mal atingir Cristina e Owen. Tenho certeza absoluta disso, porque nenhum
casal estável da série consegue manter o carisma e também porque tudo o que
vimos com Owen teria sido a história natural de Cristina e Burke. O lance dos
filhos, da família, da carreira de ambos. Troquem, na imaginação de vocês, Owen
por Burke. Vai ser fácil de ver.
O que também está fácil de ver é
que essa aparição de Burke vem para, de fato, dar à Cristina fechamento
completo. A questão do prêmio é muito rasa e seria preocupante ver uma personagem
inteligente ser tão rebaixada só por estar saindo da série. Agora, com uma
oferta tão grande e tão sedutora quanto essa de ela comandar um hospital
gigantesco e cheio de recursos fica difícil discutir.
Sim, é extremamente fantasioso,
mas podemos comprar a história e viver com essa possibilidade, inclusive,
porque a mesmíssima coisa já aconteceu antes.
Foi há muito tempo e o nome do “doador” era Denny Duquette, mas é
basicamente a mesma história, com alguns exageros mais e com a função de fazer
Cristina sair da série de forma honrada. Diferença: Burke não morreu. Ainda. E
nem sei se vai, pois não leio spoilers. Mas convenhamos que só em Grey’s os
homens deixam fortunas e hospitais para as moçoilas doutoras.
O principal, no entanto, foi o
cuidado com os diálogos entre Cristina e Burke. Nenhuma mágoa foi deixada de
lado e Sandra Oh esteve fantástica o tempo todo, com olhares pontuais e
expressões faciais que diziam muito. É nessas horas que sentimos mais a dor de
perdê-la. Na verdade, senti bastante quando ela reencontra Meredith e a amiga
sabe. Ela apenas sabe. Cristina merece mais. Cristina vai embora.
Em Seattle, a briga de Richard é
justa. Ele fala como se fosse o dono do hospital e no fundo ele é. Mas concordo
com April que a culpa da atual situação não é de Avery e ele não merece ouvir desaforos
por algo que nem sabe que está acontecendo de fato. Imagino que haverá uma
separação entre o hospital e a fundação. Assim como haverá a separação entre
Cristina e Meredith. Assim como houve a separação das gêmeas. Resta esperar que
não precisem desligar os aparelhos de ninguém, nos dois primeiros casos.
A presença de Amy parece ser uma “muleta”
para quando Cristina sair de vez da série e por enquanto não faz muita
diferença, nem para o bem e nem para o mal. Fica no mesmo patamar da mudança de
emprego de Karev, não gera interesse e não afeta nada com profundidade. Sobre a
gravidez de April, espero que levem de forma leve daqui em diante e parem de
forçar brigas religiosas entre ela e Avery, que afinal, já se mostrou aberto,
compreensivo e disposto a fazer concessões em nome do bem desse casamento.
Sobre os internos, ainda mantenho
a posição: demitam todos. Um só não resolve. Além disso, não entendi porque Jo
ficou tão inepta sem a presença de Karev. Ficou parecendo que ela nunca
trabalhou sem estar 100% dependente dele e não acho que isso seja verdade.
Também mantenho a posição sobre Bailey. Ela contou com a aprovação de Stephanie
e ficou sentindo que é um gênio, mas o que ela fez não é certo e ainda pode lhe
custar a carreira. Nada impede que esses pais a processem por ter tomado uma
decisão médica que eles jamais consentiram. Apesar de ela estar salvando a vida
do moleque, não está nem um pouco certa.